05/08/08

entrevista a Joaquim Monchique

A comédia é o que mais me preenche'
À conversa com Joaquim Monchique...

Joaquim Monchique subiu ao palco do Teatro Cine de Pombal, pela primeira vez, com a super-comédia “O Paranormal”, estreada recentemente no Porto. O actor comemora este ano vinte anos de carreira, duas décadas de “muito trabalho e sucesso”. Com uma vasta experiência na televisão e no teatro, Monchique revela que pretende prosseguir na sua carreira como humorista.

Notícias do Centro - O que mais lhe fascina na área da representação?

Joaquim Monchique - O que mais me fascina é a comédia, onde há uma relação mais imediata com o público. Eu tenho vinte anos de carreira, já fiz clássicos, tragédia, já fiz todos os géneros e a comédia é o que mais me preenche. Além disso, a comédia tem uma grande adesão por parte do público. O mundo está a ficar muito triste e “cin­zento” e as pessoas gostam de sair de casa para se distraírem, para se rirem. As pessoas precisam de ter emoções e gostam de ver comédia.

NC- O Joaquim Monchique é conhecido es­sen­cialmente pelo seu trabalho como ac­tor humorista. O que lhe atrai mais nessa área?

JM- A coisa mais extraordinária são os risos por parte do público. A primeira vez que subi ao palco tinha seis anos e foi aí que ouvi, pela primeira vez, os risos do público e nunca mais me esqueci desse momento. Foi a partir daí que decidi ser actor. Eu não escolhi ser actor cómico porque os actores cómicos têm a capacidade de fazer rir naturalmente, é algo que vem de dentro e que não se percebe, é algo que já vem no sangue. Fazer rir não se ensina e ensinar a fazer comédia é complicado.

NC- Na sua opinião há bons humoristas em Portugal? Quem são?

JM- No nosso país há uma tradição muito grande de maravilhosos cómicos, como a Beatriz Costa, que na minha opinião devia ter um teatro em Lisboa só com o nome dela, o Vasco Santana, a Maria Mano, o António Silva, o Nicolau Breyner, o Camilo, o Raul Solnado, a Maria Rueff que é das actrizes mais completas, tem uma capacidade de transfiguração incrível, há poucos actores como ela e o Herman José que marcou uma geração.

NC- Participou em vários programas televisivos do Herman José. Qual é a sua opinião sobre este humorista?

JM- Eu trabalhei dez anos com o Herman José. Ele é a estrela de Portugal, é um artista muito completo, canta, dança, interpreta, é um “showmen”. O Herman toca todas as áreas e bem.

NC- Qual é o balanço que faz de todas es­sas experiências com o Herman José?

JM- É um balanço muito positivo, aprendi muita coisa com ele, principalmente em televisão. Foram dez anos de muita aprendizagem e de muitos sucessos.

NC- A sua última participação em TV foi como membro do júri do programa “Aqui há talento” da RTP. O que achou dessa ex­periência?

JM- Achei óptima, quando fui contactado para integrar o júri do programa, não imaginava que houvesse tanto talento em Portugal. Vi gente muito boa em diversas áreas, foi uma surpresa.

NC- Pretende prosseguir na sua carreira de actor como humorista?

JM- Sim porque navego muito bem nessa área, tenho a cabeça muito formatada para o humor.

NC- O Joaquim Monchique revelou ao ‘Jornal de Noticias’ que tinha o sonho de fazer uma telenovela. Nunca foi convidado para integrar o elenco de uma telenovela? O que é que lhe atrai nessa área?

JM- Já fui convidado, mas nunca me foi apresen­tado um papel que me cativasse. Como nunca fiz telenovela, desperta-me muita curiosidade. Como já fiz tanta coisa em televisão, já fiz concursos, programas de humor, directos e telenovela é o que me falta. Além disso, as tele­novelas em Portugal deram um salto qualitativo muito grande, quer ao nível da interpretação quer ao nível da realização e produção. As telenovelas portuguesas chegaram mesmo a ultrapassar, em termos de audiências, as telenovelas brasileiras que, no entanto, continuam a ser das melhores do mundo.

NC- Tem uma vasta experiência em tele­visão e em teatro. Prefere fazer teatro ou televisão? Porquê?

JM- Não há uma área que goste de fazer mais do que outra, gosto muito de fazer teatro e tele­visão. Apesar de adorar fazer teatro porque gosto de ter o público à frente e porque foi no teatro que me estreei, também adoro fazer televisão. Quando faço uma tenho saudades da outra.

NC- Pretende continuar a fazer televisão? Já está previsto o seu regresso à TV?

JM- Pretendo, mas ainda não está previsto o meu regresso. Neste momento estou concentrado apenas no sucesso d’ “O Paranormal”. Depois desta “mini-tourné” pelo país, vamos estrear em Outubro a peça em Lisboa e depois a intenção é retornar a “tourné” por outros pontos do país.

NC- Como é que está a ser esta experiên­cia?

JM- Está a ser uma óptima experiência e a estreia d’ “O Paranormal” no Porto foi a melhor estreia da minha vida. Foi um sucesso, o público do Porto é maravilhoso, é o melhor público do mundo e uma peça que pegue no Porto pega no resto do país. “O Paranormal” está muito bem escrito, é uma adaptação de uma peça brasileira de Miguel Falabella “Louro alto procura solteiro” que foi um grande sucesso no Brasil, teve um milhão de espectadores. Foi o maior êxito do Miguel.

NC- Qual é a sua opinião sobre o teatro de Miguel Falabella?

JM- O Miguel é um génio, o teatro dele é a vida tal e qual como ela é. “O Paranormal” é uma peça que já está em Portugal há três anos. É uma peça de um humor muito negro, fala dos últimos preconceitos da humanidade, da xenofobia, do racismo, da homossexualidade. É uma peça que está muito actual que fala de pessoas que procuram outras pessoas.

NC- É a primeira vez que está a representar um monólogo. Porque é que aceitou este convite?

JM- Eu não aceitei o convite logo quando fui convidado. Ao início eu não queria porque o que eu mais gosto na representação é contracenar, é o convívio com os meus colegas no camarim e estar sozinho em cena assustava-me um pouco. Além disso, é difícil para um actor ‘agarrar’ uma plateia durante duas horas, sem mudar de roupa e sem objectos. Mas depois decidi aceitar o convite para marcar os meus 20 anos de carreira que completo este ano. Adaptei a peça para a realidade portuguesa, como foi uma peça muito bem escrita tanto dava para adaptar aqui como na China.As pessoas que vêem a peça, ao início estranham mas, ao fim de dez minutos, começam a ver a história de 16 pessoas e a peça torna-se muito engraçada.

NC- Na sua opinião, quais são os motivos pa­ra que as pessoas não percam “O Para­normal”?

JM- São vários os motivos. É uma “super-comédia”, são duas horas muito divertidas. É uma peça que tem tudo, é muito forte, todas as personagens estão à beira da loucura. É um monólogo, mas não é porque conta a história de 16 personagens. É uma peça que está muito bem escrita e estruturada

NC- Acha que este tipo de espectáculos é importante para o teatro amador existente na província?

JM- Acho muito importante, as coisas mudaram e, neste momento, o teatro não é só em Lisboa ou no Porto e temos salas muito boas espalhadas pelo país. Acho que é muito importante os actores do teatro amador assistirem a este tipo de espectáculos, quando eu andava no teatro amador também assistia a imensas peças profissionais. O teatro é uma expressão cultural fortíssima, acompanha o que o mundo é e o que o mundo foi.

NC- Qual é a sua opinião acerca do teatro português?

JM- O teatro português reflecte toda uma pobreza de gestão cultural que o nosso país atravessa . No entanto, temos actores muito bons e salas de teatro muito boas espalhadas pelo país. Mas em Lisboa há poucas salas de teatro. Enquanto que alguns países têm as zonas do teatro onde se encontram concentradas todas as salas de teatro, como acontece em Buenos Aires e em Nova Iorque, onde o teatro movimenta cafés, bares, restaurantes, discotecas, em Lisboa não há nenhuma zona do teatro, temos apenas o “Coliseu”, o “La Féria”, os outros teatros estão todos dispersados pela cidade. Esperamos que isto mude, as pessoas estão cada vez mais a ir ao teatro e é necessário uma boa política de cultura.

NC- Quais são os seus próximos projectos profissionais?

JM- Neste momento, os próximos projectos passam apenas pela “tourné” d’ ”O Paranormal”, espero que a estreia em Lisboa corra bem e que a próxima “tourné” pelo país seja bem sucedida.